quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A Guarda do Tabaco




Após a curva que dava início à subida que culminava na casa do Careca, a qual dava as boas vindas a Ledões do lado de onde se punha o Sol, Manel ouviu os primeiros sinais de alerta.
- Fujam, fujam, gritava o Manecas com o molho de folhas de tabaco à cabeça.
Passou por mim de tal forma desvairado, que fiquei com a certeza de nem sequer me ter visto.
Naquela altura o Manecas ainda não era coxo, corria como toda a gente e como ninguém quando, como era o caso tinha a Guarda do Tabaco atrás dele.
Ele que como os outros desgraçados plantavam tabaco, ilegalmente claro, como todas as outras coisas que por decisão da velha senhora eram ilegais mesmo que os desgraçados maltrapilhos que habitavam este fim de mundo não soubessem o que era o dinheiro. Os pagamentos faziam-se nas cegadas e empenhava-se tudo o que se tinha para deixar no comércio dos Pimentas.
O Manecas na ânsia de salvar o tabaco para matar o vício do pai, porque, por ironia ele nem sequer fumava, nem se apercebeu que a visita da Guarda, que não era a do tabaco, se prendia com outro motivo.

Excerto de "Na Demanda do Ideal"

1 comentário:

trepadeira disse...

Sempre o povo perseguido pelo poder.
Um texto bem a propósito.

Um abraço,
mário